21 de jul. de 2005

Living is easy with eyes closed

Na comunidade existente no Orkut, chamada Ilizarov, tem um tópico onde as pessoas falam sobre a pior coisa qdo se usa um lizzie. Quase todos citam problemas relacionados diretamente com o aparelho, mas eu já acho que o pior é o relacionamento com as pessoas, em todos os sentidos.
Sim, existe uma gama enorme de coisas que podem ou não acontecer qdo se coloca um fixador, desde inúmeros tipos diferentes de dor (osso, nervos, músculos, câimbras, infecção etc), dificuldades pra dormir, pra andar, enfim, mtas coisas mesmo, mas todas elas fazem parte do processo, e geralmente temos uma opção em relação a isso: encarar o fato, tomar medicamentos pra solucionar ou amenizar o problema, e seguir em frente. E ponto.
Mas o que fazer com as pessoas? Nesse grupo, coloco todo mundo que não esteja passando pela experiência, ou que já tenha passado, desde estranhos que encontramos no dia-a-dia até nossos familiares, próximos ou não. E olha que é gente pra caramba dando palpite e falando toda sorte de asneiras diariamente na nossa cabeça.
A coisa mais difícil que existe é conseguir segurar a própria onda na recuperação quando todos ao seu redor parecem não se tocar o qto é difícil administrar toda a carga emocional envolvida no processo. Sempre me perguntam como eu consigo passar por tudo isso e ser tão forte, tão isso, tão aquilo. A resposta é simples: eu não sei!!! Eu também me faço essa pergunta, pelo menos uma vez por dia. Não me julgo superior a ninguém, ao contrário, sou tão humana qto qualquer pessoa, mas tento não tornar o problema maior do que ele é. Não, não é fácil. Sim, tenho várias crises de choro, sempre que a barra aperta e minha paciência desaparece - na verdade ela já se foi faz tempo.
Faz parte da natureza humana pensar que é possível ter controle de tudo, porque esse é o mecanismo em que a gente funciona, buscamos segurança em todas as áreas da nossa vida. Mas a verdade é que não temos controle de nada, e é inútil, e desgastante pensar em coisas muito distantes que podem ter inúmeros desfechos.
Eu me baseio nisso pra seguir em frente, claro que muitas vezes entro em parafuso pensando em coisas como que tipos de seqüela eu terei, se vou conseguir trabalhar e me garantir sozinha, se vai ser possível eu ter filhos, mas convenhamos, as respostas para essas e outras tantas duvidas que eu tenho são tão impossíveis de se obter no aqui e agora que simplesmente evito ao máximo me martirizar pensando nisso. Então eu abstraio. Tento viver o hoje, por mais que isso pareça discurso de livro de auto-ajuda. Não me alieno, apenas deixo pra pensar nisso qdo for a hora.
Tudo muito lindo no papel, mas na prática, é extremamente difícil. Aí é que entra meu estresse com as pessoas, porque tudo o que vc luta pra organizar na sua mente, elas repetem o contrário diariamente na tua orelha, são toneladas de perguntas repetidas à exaustão, sobre todas as coisas, desde perguntas extremamente pessoais até as mais idiotas possíveis; e coisas que pra vc podem significar muito e o indivíduo em questão não se lembrará de nada nos 5 minutos seguintes, e te perguntará de novo e de novo, e de novo.........só pra poder se certificar de que "ai, meu Deus, e eu achava que estava mal, mas qdo vi vc, coitada, vc ta mal, hein!!!" Eu odeio qdo falam isso! Para mim, o pior sentimento que existe é pena, dó, nenhum ser humano é digno de pena, isso só demonstra um enorme egocentrismo da pessoa que sente isso por outrém, é a maior demonstração de complexo de superioridade que existe.
Outra questão recorrente (com variantes semelhantes) é "Mas como vc consegue ficar sem namorado? Não conseguiu nem um médico, vc ficou tanto tempo internada!!!"
25 meses de tratamento, 7 meses e meio de internação, 14 fios e 6 pinos na perna, 12 cm de osso alongado, 80 horas de hiperbárica, 12 cirurgias e mais um monte de coisa pra ouvir isso, que eu tinha que arrumar um namorado no hospital? Puta que pariu!! Ninguém merece!!!

Eu sei que já escrevi anteriormente sobre coisas parecidas com esse post, mas é que nesse momento atual da minha vida, em que - se Deus quiser - o dia de tirar o lizzie está se aproximando, ansiedade alheia chega a ser maior que a minha e por muitas vezes, coisas que ainda nem passaram pela minha cabeça são um espanto para o meu interlocutor. Dia desses, ao comentar com uma pessoa que eu estava quase pra tirar a gaiola, ("mas já???!!!" já, cacete, são 2 anos, quase uma gestação de elefante, meu!!!), a preocupação da pessoa era que eu ia poder finalmente trabalhar logo, tipo, eu ainda tenho varias cirurgias pra fazer, nem sei o que vai ser do meu futuro e o ser em questão só devia pensar em por a "inútil" aqui pra trabalhar.
A falta de sensibilidade das pessoas é que me espanta, soube de uma pessoa que acabara de ter filho, estava ainda gorda, inchada e com a auto-estima em baixa por causa do físico e recebeu a visita de varias amigas, uma das quais levou fotos das férias, no nordeste, onde a mesma estava de biquíni, magérrima e de topless na maioria das fotos. A ex-grávida ficou mais deprê ainda. Esse exemplo pode ser bobo, mas por aí dá pra ver que a falta de noção é geral.
Certo, concordo com uma coisa que minha psicóloga diz, que provavelmente se eu estivesse numa situação "normal", eu conseguiria lidar com todo o contingente de opiniões de um jeito diferente e isso teria uma outra dimensão para mim, mas justamente por eu estar passando por isso é que vejo como é difícil para uma pessoa que atravessa uma adversidade se recuperar, não por falta de vontade própria, mas sim por causa do meio em que vive.
É preciso um gás extra mesmo!

Fui!!!


Soundtrack: "Strawberry Fields Forever" - The Beatles
...it´s getting hard to be someone but it all works out, it doesn´t matter much to me....

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