9 de dez. de 2006

It´s the end of the world (as we know it)

Volto aqui hoje, com um delay de quase um ano para tomar uma decisão há muito pensada, mas não que não seja dolorida...vou parar mesmo com o Gaiola.
É difícil resumir todas as coisas que aconteceram durante este ano, muitas delas, não caberiam num simples resumo, posso dizer com certeza que este foi um ano intenso, em todos os sentidos.
Por todas as fases de recuperação e tratamento que passei, tive todas as emoções boas e ruins, mas em 2006, nem eu, que sempre fui ótima em classificar, separar, dividir e nomear sensações e sentimentos poderia fazer isso de maneira clara, foi um ano punk pra c.......
Escrever sempre foi, acima de tudo, uma terapia, um jeito de colocar para fora toda a angústia que eu sentia, comigo, com os outros, com a vida, e quando o blog começou, eu tinha um propósito, falar sobre minha experiência sobre o ilizarov, já que no fim de 2003/começo de 2004, não se achava nada parecido na Internet, em português, e eu precisava encontrar mais gente por aqui, com uma realidade parecida com a minha.....conversar com os gringos foi excelente, mas por muitas vezes eu me sentia verdadeiramente como os brazileiros que eles conhecem.....as tecnologias e os tratamentos eram tão diversos, que dava vontade de chorar......
Por um lado, atingi minha meta, conheci muita gente legal, e além de sentir que ajudava alguém, isso tbm me fazia mto bem, por que por mais que família e amigos tentem, ninguém que não tenha passado por uma experiência assim pode saber a tênue diferença entre angústia e falta de esperança, entre vaidade e amor-próprio, entre medo e falta de fé. Quando você tem medo de entrar pela décima vez num centro cirúrgico, porque vc já sabe tudo o que vai enfrentar e simplesmente dá um pânico, a maioria das pessoas falam que você está com pouca fé.....mas se bobear, nunca tiveram coragem de tomar anestesia para arrancar um dente......ou seja, nada melhor que conversar com alguém que te entende, mas isso é uma verdade universal, não fui eu quem descobriu.
Porém, sei que não escrevi nem metade do que gostaria, ou que eu pensava, queria, imaginava, enfim, sei que fiz menos do que eu tinha planejado; ainda tenho muitos textos armazenados, idéias, e isso me entristece, porque meu plano original não ficou realmente como eu desejava, mas isso tbm é culpa da escritora, que é um pouco perfeccionista e carrega uma culpa dentro de si, provavelmente dos anos passados em colégio de freiras.....hahaha!
Acho que entrei em crise criativa porque durante este ano, eu vivi e respirei hospital, num estresse e angústia que muitas vezes me fizeram ficar num estado emocional péssimo, e nem de longe eu teria algo bom para escrever.....além disso, eu sempre optei por não entrar na minha vida pessoal, e chegou uma hora que escrever seria me expor demais, já que as coisas boas estavam sempre nessa esfera.....
Graças a Deus, faz quase um ano que o russo voltou para as estepes geladas da Rússia, e eu continuo me tratando; depois de 3 anos e meio, ainda tenho uma caminhada a percorrer, mas estou renovada, com outra cabeça, e forte para seguir em frente.
Ainda me pergunto por quê isso tudo aconteceu comigo, e cada vez imagino uma resposta diferente, acho que estarei curada qdo essa pergunta não me angustiar mais. Mas, por incrível que pareça, chegou o dia em que eu agradeci por ter passado por isso(quem acompanhou tudo o que escrevi, sabe o que pensava sobre isso), por que hoje sou uma pessoa muito melhor do que antes, pude viver experiências, conhecer pessoas que realmente me fizeram ver a vida com outros olhos, perceber o que realmente importa nessa vida......quem sabe, isso aconteceria com o tempo, afinal, faz parte do processo natural de amadurecimento.....mas, com certeza, ainda preciso melhorar muito.......
Eventualmente, pode ser que eu volte aqui, mas vou fazer um outro blog, para escrever sobre idéias, pensamentos, sonhos, coisas que não cabem aqui.....
Assim como a vida caminha, também não quero ficar presa ao rótulo de ?menina do acidente?, faz parte dessa fase de recomeço querer se distanciar de memórias dolorosas, afinal, quem já começa com a mala cheia nem consegue chegar na metade do caminho, mas em momento algum me arrependo de ter optado por usar o ilizarov e salvar minha perna, não dá pra dizer como é bom você colocar seu pé no chão e senti-lo, vivo!!! Dor??? Sim, tenho, mas e daí? Olhar meus 5 dedinhos é a maior recompensa, e tenho muito orgulho de mim por segurar a onda que eu seguro!

Obrigada a todos pelo carinho, pelos recados(perdidos, graças ao haloscan), pela força e amizade!!!
Deus, como é difícil dizer adeus.....vou é dizer até mais, porque me conheço e sei que qualquer hora volto aqui pra arrumar isso, por mais links, etcetc......


P.S.- quem quiser, o link do blog novo é este: Além do Horizonte

"Unlike Me" - Kate Havnevik
...There are no guarantees in life, not for the present,nor for the future.
All I know is that I'm here; don't know for how long.
I love the way you live so intensely enjoy every minute of life
with space to swing your arms around laughing loudly....