2 de set. de 2005

Acorda, menina!!!

E chegou a hora de exercitar o braço também....caramba, vou ter que entrar no lugar-comum mais uma vez, mas qual história de recuperação não é cheia de idas e vindas e detalhes sórdidos???
Eu não gosto muito de ficar falando de perdas, de quantidade de pinos, remédios e cirurgias, então às vezes parece que tudo é muito fácil, que simplesmente vai fluindo, quando na verdade.....só quem passa pode dizer realmente o quanto custa, em todos os sentidos.
Nunca deixo de admirar o corpo humano, a capacidade de regeneração e recuperação é mágica mesmo, tem coisas que acontecem que fazem até os mais céticos acreditarem no Divino, a sincronicidade das coisas, os pequenos milagres, que por muitas vezes parecem provocar, como que dizendo "nunca diga do que eu sou capaz"......
Eu sempre tive muita fé de que tudo ia dar certo, e mesmo que meu tratamento ainda não tenha acabado, e mesmo nos momentos em que estava insuportável o caminho, eu nunca me arrependi de ter abraçado a causa do ilizarov e fazer de tudo pra salvar minha perna.
Se eu não tivesse fé, acho que não teria forças nem pra abrir os olhos de manhã.
E assim tem sido com meu braço, que apesar de eu não falar muito aqui, por inúmeras vezes me deixava ainda mais desesperada do que a perna.
O que a princípio parecia uma simples fratura, foi ficando mais preocupante com o passar dos dias, pois além da dor insuportável, eu não conseguia nem sentir ou mover nem 1 cm os dedos. E depois de fazer uma eletroneuromiografia, constatou-se a lesão do plexo braquial, ou seja, os nervos que comandam o braço, explicando assim bem por alto. E com isso vieram os médicos, e seus prognósticos adoráveis. Fico impressionada com a facilidade que alguns profissionais tem em dar a pior noticia do mundo do mesmo jeito que se estivesse falando sobre o preço da gasolina. Você pega uma carona para casa e dias depois tem uma figura na sua frente te dizendo que seu braço não vai mais mexer. Animador.
E aí o tempo vai passando, e entre dores e tratamentos, tudo vai entrando num ritmo próprio, onde todos os acontecimentos são interligados; por causa da seriedade da perna, nem se cogita operar o braço, depois de tanta cirurgia, medicamentos e sofrimentos em geral, eu estava super debilitada, com uns 40kg, hiper anêmica , enfim, tudo é uma bola de neve. Quando pude operar o braço, talvez por estar com a imunidade baixa, veio o superbug da pseudomonas, e mais sofrimento, internações, bombas de antibiótico.....
Nesse meio tempo, o que se podia fazer? Seguir a vida, oras, com a infecção na perna simplesmente é impossível operar o braço. Talvez numa outra dimensão, nesses hospitais de filme de Hollywood, existisse alguma alternativa, mas aqui na galáxia onde vivo é assim. O que estraga a vida real é a televisão mesmo.....
Nessa hora, todos aparecem inconformados, como se o fato de eu não estar boa ainda fosse culpa minha e da minha mãe, que somos acomodadas e não procuramos ajuda em outro lugar. Como esse braço ainda está assim? é a duvida geral. E mais uma vez temos que explicar toda a odisséia e lembrar, não só aos outros mas a nós mesmas que realmente, o velho clichê é certo, leva um segundo pra acontecer o acidente e anos para consertar.
Não consegui ainda definir se acredito em destino, coincidências, sinais, acaso e se for possível, acho que acredito em tudo isso junto, meio misturado. É a velha mania do ser humano de querer definir o indefinível, entender o que está além da nossa compreensão. Qdo eu estava acertando as coisas para fazer a cirurgia, deu tudo errado, apareceu a anemia e a infecção, e as mudanças de planos. Mas eu não estava confiante, sabe qdo seu santo não bate com o do médico? Ele iria resolver apenas o problema da fratura, nem sequer recomendou que eu procurasse um especialista para ver a parte neurológica. Depois de meses, de tanto falarem, fui procurar outra opinião, um especialista super renomado na cidade, e tive o pior atendimento possível, e um diagnóstico devastador, mas novamente a pessoa nem cogitou pedir exames mais detalhados.
Nessa época eu deprimi, tinha pesadelos, fiquei péssima.
Foi qdo tentei um outro médico, e desde o começo foi diferente, além de ser uma pessoa extremamente agradável, explicava tudo detalhadamente, todas as dúvidas, e claro, pediu novos exames, para saber como estava meu braço de verdade.
E aí entra a grande notícia, para quem agüentou ler até aqui!
Apesar da lesão inicial do plexo braquial, houve uma recuperação total dos nervos, ou seja, consertando a fratura, se Deus quiser meu braço fica bom de novo!!!!!
E por isso eu disse que não dá para não acreditar em milagres, qdo todos estavam tão pessimistas, acontece o inesperado.....de acordo com o esse novo médico, provavelmente se eu tivesse feito a cirugia antes, qdo o plexo ainda estava com problemas, ela daria errado, então, sei lá, acho que tudo tem seu tempo certo para acontecer mesmo, há males que vem para o bem....
Assim como o osso cresce 1mm por dia durante o período de distração, os nervos também se regeneram com essa mesma velocidade, 1 mm/dia, o que no meu caso levou aproximadamente 2 anos, levando em consideração o comprimento do braço da altura da lesão até os dedos. Pela segunda vez, sou salva por essa espécie de unidade cabalística da regeneração humana.....e por Deus também, é claro......

E agora, preciso recuperar o tempo que meu braço ficou parado, para qdo for possível realizar a cirurgia, já que existe impulso nervoso para realizar os movimentos . Ontem mesmo já comecei a super malhação e a super exaustão......mas nada que me torne a versão feminina do Schwarznegger....
Não vejo a hora de ver os resultados!!!!!


Fui!!!


Soundtrack:
"A Estrada" - Cidade Negra
.....vc não sabe o quanto eu caminhei, pra chegar até aqui.....