22 de mai. de 2004

Explicações

Hoje aconteceu um fato no mínimo curioso, que realmente chamou minha atenção. A tv estava ligada na Warner, e começou a passar uma série que eu particularmente odeio, "O toque de um anjo". Acredito em anjos, mas essa série força todos os tipos de barra, simplesmente não desce, sabe? Enfim, o episódio de hoje trazia um garoto pré-aborrecente, que passava por uma fase de negação dos pais, por eles serem diferentes, um perfeito babaca. Bem, ele não era uma pessoa convencional, era filho de anões, que trabalhavam num circo e o garoto em questão morava no circo também. Num dado momento, ele se rebela, foge de casa e deixa o pai desolado, pois a mãe do rebelde sem causa já havia morrido por conta do infeliz. Ele não toca nunca na causa da morte da coitada, mas nesse momento, resolve se abrir com a anja e aí está o motivo deste post. Ele diz que para agradar ao rapazola, a mãe decide fazer um tratamento com nome chique, extremamente doloroso, que permite alongar os membros, porém morreu ao se submeter ao tratamento. Epa, peraí. Aposto que 99% dos telespectadores não fazem a mínima idéia de qual tratamento seria esse, mas euzinha aqui....é claro que era o Ilizarov. E aí entra minha revolta. Ok, não fazia parte do contexto do seriado explicar o método, e sim, somente dizer como a mulher morreu, mas devo agir como advogada do diabo agora. O Ilizarov não mata ninguém, mas por se tratar de um método que envolve cirurgias, risco de infecção, etc, aí sim, existe algum risco de complicações. Então, se o texto tivesse sido um pouco melhor elaborado, bastava dizer: ela teve uma infecção devido ao tratamento e morreu, ou coisa que o valha, mas nunca culpar o tratamento. Seria equivalente a dizer: morreu de avião. Ah estava no avião? Não, ele caiu em cima da casa dela...
Assim como em qualquer tratamento médico é necessário escolher um bom profissional e ser um bom paciente, o sucesso do Ilizarov depende disso. Em meu caso, não optei por ele, era a única opção existente para salvar minha perna. Abracei a causa. Mas esse método existe para muitos casos, como, por exemplo, alongar membros, principalmente no caso de pessoas com problemas congênitos, na tentativa de igualar diferenças no comprimento das pernas, ou até mesmo corrigir angulações dos membros. Faz milagres. Porém, há que se dizer dos perigos envolvendo o método, se mal utilizado. Primeiro de tudo, os riscos de uma cirurgia, envolvendo anestesias, hemorragias, etc. Depois, ao longo do tratamento, não se pode omitir os riscos de infecção, por isso, acima de tudo, higiene é tudo. A limpeza do aparelho precisa seguir um certo ritual, pra garantir o bom andamento da coisa. E é chato fazer isso. O maior temor é uma osteomielite, difícil de combater e com resultados desastrosos, podendo arruinar tudo. Além disso, o transporte ósseo precisa ser feito com calma, com inúmeras radiografias, e um cuidado grande com a perna, evitando tombos, movimentos bruscos...nem sempre a pessoa pode manter seu nível de atividades rotineiras, na maioria das vezes, isso é o que menos ocorre. O paciente precisa estar ciente de tudo o que enfrentará durante o tratamento.
E claro, existem as situações absurdas. Na China, por exemplo, jovens recorrem ao tratamento como se fosse a salvação de todos os problemas. Com a explosão demográfica, a falta de oportunidades é tão grande, que a altura vem sendo usada como critério de seleção dos candidatos para bons empregos, e jovens mais baixas são simplesmente descartadas como parceiras, não casam. Eles apelam para o Ilizarov, para "crescerem". Insano! E a coisa não pára por aí. Na maior parte das vezes, agem escondidos da família, colocam o fixador nas duas pernas ao mesmo tempo, pra ir mais rápido. Não imagino o sofrimento que esses jovens enfrentam, por questão de sobrevivência. Vaidade. Necessidade.
O mais absurdo é a luta contra o corpo. Existe um limite de alongamento ósseo, que precisa ser respeitado, caso contrário, essa pessoa pode ter fraturas recorrentes, devido a um material ósseo enfraquecido, de má qualidade. E lembrar que alongam junto os músculos, veias, tendões, pele... e esse risco, de quebrar a perna após todo esse sofrimento, é um fantasma que ronda todo mundo que passa por essa experiência....
Portanto, o método pode ser usado para o bem e em situações, no mínimo, questionáveis. Tudo depende também da postura adotada pelo profissional escolhido. Mas, acima de tudo, quem escolhe é o paciente. Até que ponto pode ir a falta de noção do ser humano?

Fui....

Soundtrack- "Tudo bem" - Lulu Santos
....quase nunca a vida é um balão....

Um comentário:

  1. Anônimo8:02 PM

    To com um ilizarov faz 3 meses... tomo muito cuidado, mas hoje pesquisando mais sobre esse fixador, li um artigo cientifico que diz que a fisioterapia de começar já no segundo dia da colocação do fixador e eu até agora não fiz nenhuma fisioterapia e sinto muitas dores...

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